Muñeca, a Perrita Ranger
Este é um texto escrito há algumas semanas atrás, como vão poder perceber, andava perdido num cd e só o recuperei agora. Resolvi publicá-lo, em honra da Muñeca.
Quando cheguei ao Refúgio numa quarta feira por volta das 14 horas, fui recebida por umas quantas ladradelas e um forte abanar de cauda. E assim fomos apresentadas, Muñeca e eu. A Muñeca é uma rafeirinha amarela, a puxar para o texuguito, com uns ternos olhos castanhitos, a namorada ideal para o Lucky… há uns anitos atrás! No encalço da Muñeca, mas em passo mais lento e cansado, apareceu o Bobby. Rafeirote também, preto afogueado, ouvido duro e muito sono. Estes dois canitos seguem-nos para todo o lado. Nao tem um dono em especial, adoptam todas as almas que por aqui passam como dono. Umas mais que outras…
Tudo a postos para mais uma patrulha. Nao é preciso chamar. Ao mínimo sinal de que estamos prontos, e já eles se estao a sacudir alegremente em direcção à praia. E não vão para passear, vão trabalhar. Nao incomodam as tartarugas, são o mais discreto possível, evitam-nas inteligentemente. Quando percebem que vamos esperar pela tartaruga, fazem um ninho na areia e esperam deitados. Se por acaso alguém fica para trás, nao fica sozinho… a Muñeca está lá. Sempre. Acredito mesmo que ela nos esteja a guardar. É uma cadela impecável.
Numa noite em que fizemos apenas uma patrulha às 4 da manhã, deparamo-nos com mais de metade dos ninhos saqueados, ao todo 8 ninhos foram roubados. Quando chegamos a casa, alguém comentou que a Muñeca tinha ladrado muito durante a noite… estava explicado porquê. Por vezes sai disparada a correr e a ladrar para a vegetação que ladeia a praia… talvez tenha sentido uma cobra, ou outro animal qualquer. Pela parte que me toca, gosto muito de ter a Muñeca por perto, não tenho qualquer vontade de ter um encontro imediato com animais rastejantes… e venenosos. Já vi algumas cobras, e inclusivé peguei nelas para a foto da praxe, mas não agressivas nem venenosas, claro.
Quando é para passar o rio, o famoso que por vezes esta com mais caudal do que o desejável, não há corrente que os detenha. Vem sempre a par de nós. Também reparei numa coisa que pode ou nao ter significado… a Muñeca passa o rio sempre a montante de nós. Talvez seja apenas coincidência, talvez não, mas a verdade, é que se houver crocodilos, em princípio estarão a montante. E agora tenho que ser justa para com o Bobby, é um nadador nato. A idade não lhe pesa nada. É um espectáculo vê-lo nadar.
Um dia destes fomos a Esterillos, uma vila que fica a 45 minutos a pé pela praia, comer uma pizza e beber umas cervezas, lá veio a Muñeca atrás de nós, toda contente. E ao nosso lado ficou, na esplanada, deitada refastelada enquanto comiamos. O pior foi para regressar, a maré estava cheia e não dava para ir pela praia, tivemos que arranjar uma boleia. E a Muñeca, como vai? perguntei eu. Vem connosco, responderam naturalmente. Subimos para a caixa da pick-up, enquanto ela olhava para nós la de baixo. Upa Muñeca, já cá estas. Não achou muita piada à ideia de ir de carro, ainda saltou uma vez para baixo, mas à segunda percebeu que era ali que tinha que ir, encostou-se muito bem às minhas pernas e lá fomos nós todos, de cabelos ao vento e cerveza na mão.
Um dia destes estava a dormitar na rede e sinto um suave roçar nas minhas costas… olhei. Era a Muñeca, a pedir mimos.